Não foi recentemente, mas também não faz tanto tempo assim, que a polêmica sobre medicalização dos alimentos versus comida como fonte de prazer e não apenas nutrição foi lançada. Na verdade, essa problematização em torno do alimento acontece há muito tempo, mas agora as pessoas encontraram "partidos" para sustentar sua ideia e usar como bandeira de defesa.
Nutricionistas funcionais versus nutricionistas comportamentais. E na verdade o único prejudicado é você, que em meio ao tiroteio de sermões se encontra mais confuso que antes, sem saber o que realmente é melhor ou não para sua saúde e qualidade de vida.
Nós profissionais nutricionistas temos que ter em foco a pessoa a nossa frente, as pessoas ao nosso redor, temos que ter como objetivo descomplicar o universo dos alimentos, para que comer melhor e saudável não seja apenas um luxo e direitos de alguns.
Enquanto perdemos tempo tentando defender nossa bandeira, as pessoas sofrem e morrem todos os dias com problemas de natureza nutricionais.
A medicalização do alimento existe? Sim, ela existe. Ela existe muito antes de Rita Lobo e Bela Gil. Ela existia na casa da minha avó, quando a mãe dela servia leite quente com canela para ela dormir quando tinha insônia. Ou quando ensinou a filha, minha vó, que nos ensinou mais tarde, que chá de boldo é ótimo para quem está com problemas gástricos. Ou ainda quem sabe, quando nos oferecia espinafre, para que pudéssemos ficar igual ao Popeye. Naquela época, elas não sabiam o porquê que estes alimentos agiam desta maneira, alguns usados como prevenção e outros como auxiliares em um processo de tratamento. Hoje, através dos estudos, tecnologia e ciência sabemos exatamente o porquê que alguns alimentos podem nos fazer bem e outros podem nos fazer mal. A nutrição funcional ela chega para olhar a pessoa como um todo, e não apenas uma doença isolada, ela vem para melhorar a qualidade de vida, trabalha na prevenção e auxilia no tratamento de doenças, através dos alimentos e seus compostos bioativos, que são substâncias que agem e atuam positivamente em diferentes ações fisiológicas do nosso corpo. Ou seja, "medicalizamos" o alimento.
Contudo, quem disse que não podemos unir este conhecimento ao prazer, à cultura e analisar questões socioeconômicas de uma pessoa? Muito pelo ao contrário, quando você ensina alguém a reconhecer quais alimentos fazem bem ou mal para ela, quando você mostra as pessoas o poder dos alimentos, e como você os pode combinar, agregando valor nutricional aquele prato sem deixar o prazer de lado, você empodera aquela pessoa para fazer escolhas melhores para seu próprio corpo. Comer é prazer, mas também é consciência.
Nós somos formados por nutrientes, cada função que ocorre dentro de nós, que nós nem sequer imaginamos, utiliza nutrientes, e diferentes nutrientes.
Segundo a antropologia, comida é cultura quando é produzida, porque o ser humano não
utiliza apenas o que encontra na natureza, mas também planta e cria
animais, diferenciando-nos, assim, das outras espécies. Comida é cultura
quando é preparada, porque, depois de obtido o produto- base da sua
alimentação, o ser humano o transforma através de diversas tecnologias
que se exprimem nas práticas da cozinha. Comida é cultura quando é
consumida, porque o ser humano escolhe a própria comida mesmo que possa
comer de tudo, e essas escolhas são tomadas com base nas dimensões
econômicas, nutricionais e aos valores simbólicos de que a própria
comida se reveste (Montanari, 2008).
Então vamos nos unir e unir o poder dos alimentos ao nosso favor. Tem espaço para todos os pensamentos, e tem espaço suficiente para unir os dois lados.
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